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INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA JUNTO À CRIANÇA COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA Imprimir
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Talena Brabo Arero*

* Fisioterapeuta formada pela Universidade da Amazônia (UNAMA)/Belém-PA, Pós-Graduada em Fisioterapia em Neurologia pela Universidade Metodista de São Bernardo do Campo (UMESP)/SP, e em Fisioterapia em Pediatria e Neonatologia pelo Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE)/São Paulo-SP, mestranda em Saúde e Desenvolvimento Humano pela Universidade LaSalle/Canoas, RS.

e-mail: talena.arero@gmail.com

Área de Atuação: Pediatria

Palavras-chave: Transtorno do Espectro Autista; Autismo; Pediatria; Fisioterapia motora.

Resumo: O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um grave problema de saúde pública mundial, acometendo cerca de 1% da população. Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, O DMS-5, o autismo é considerado um transtorno invasivo do desenvolvimento, sendo um conjunto de distúrbios, de origem multifatorial, que interferem na interação social, comunicação e linguagem. A atuação fisioterapêutica diante ao transtorno, se dá com intervenção motora e sensorial, que auxilia no desenvolvimento motor  da criança, também ativando áreas de concentração e interação social, buscando a melhora da qualidade de vida da criança e sua família.

 

Introdução:

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é a designação dada a um conjunto de distúrbios do neurodesenvolvimento que interferem nos três principais pilares da estruturação do indivíduo: a interação social, a comunicação e a linguagem. Os primeiros estudos em literatura são datados de 1943, em que Kanner definiu o transtorno como Distúrbio Autístico do Comportamento Afetivo, apresentando como características: perturbação das relações afetivas como meio, solidão extrema, inabilidade do uso da linguagem, comportamento ritualista, de início precoce e predominância no sexo masculino. Em 1944, nos estudos de Asperger, a manifestação foi denominada como Psicopatia Autística, apresentando severo transtorno da interação social, desordem motora, linguagem pedante e com acometimento no sexo masculino. Os dois estudos apresentaram relevância para literatura mundial e o Autismo Infantil passa a ser objeto de estudo controversos até hoje 1,2,3.

Kanner apontou em seu estudo que a etiologia do Autismo Infantil tem por essência a distorção do modelo familiar, em decorrência das atribuições intelectuais dos pais, que desencadeiam alterações no desenvolvimento psico-afetivo da criança. Associada a estruturação familiar, o autor menciona que também há algum fator de origem biológica se fazendo presente para a ocorrência do Autismo 2.

Hoje, ainda há controvérsias sobre a etiologia do TEA, porém estudos apontam que também tem origem em falha na circuitaria cerebral, onde há alterações de comunicação e propagação das informações entre os neurônios. O cérebro do autista apresenta alterações da estrutura do corpo caloso, responsável pela comunicação entre os hemisférios cerebrais; da amígdala, incumbida por aspectos do comportamento social e emocional; e do cerebelo, envolvido nas habilidades motoras que compreendem o equilíbrio e propriocepção. Além das alterações estruturais, o transtorno interfere na ação de dois importantes neurotransmissores: a serotonina e o glutamato 3.

Epidemiologicamente, a ocorrência mundial é de aproximadamente 1 a 5 casos para 10.000 crianças nascidas, ocupando o terceiro lugar entre os distúrbios do desenvolvimento infantil. A predominância é no sexo masculino, em uma proporção de 2 a 3 homens, para 1 mulher acometida, uma vez que o transtorno é de cunho genético ligado ao cromossomo X, tornado assim os homens mais vulneráveis. Quanto ao seu curso, os sinais do autismo costumam ser reconhecidos até o terceiro ano de vida, ou antecipadamente se o atraso no desenvolvimento for grave. Para o atraso no desenvolvimento, são identificadas perdas ou inexistência de habilidades sociais, linguísticas e motoras 4,5,6.

Devida as causas do TEA serem multifatoriais, acredita-se que condições genéticas e ambientais se combinem e predisponham a criança a apresentar sinais específicos que componham o quadro clínico do autista, e são eles: comportamento repetitivo e estereotipado das mãos (bater palmas, estalar os dedos) e/ou do corpo todo (balançar-se, inclinar-se, morder-se, ou oscilar o corpo); limitação de atividade ou interesse; comprometimento do desenvolvimento da linguagem verbal e não verbal, caracterizado por sons vocálicos repentinos, rápidos, recorrentes e forma estereotipada; déficit na interação social e de comunicação; contato visual não direto; e, alterações posturais, como a marcha em flexão plantar 2,5,6.

Não há cura conhecida para o TEA, portanto um diagnóstico precoce e rápida intervenção se fazem necessário para que se evite a forma crônica do transtorno, aumento assim as possibilidades de tratamento, a partir de assistência multiprofissional, melhorando a qualidade de vida da criança e sua família 1,2,5,7.

A maior parte dos estudos envolvendo o TEA aborda uma intervenção restrita de profissionais (Médico, Psicólogo e Terapeuta Ocupacional), pouco abrangendo a repercussão motora, de extrema importância no desenvolvimento neuropsicomotor na primeira infância. Por este motivo, o presente estudo tem como objetivo identificar a relevância da intervenção fisioterapêutica em indivíduos crianças com TEA.

 

Metodologia:

Estudo de revisão sistemática de literatura em língua portuguesa, nas bases de dados Scielo e MedLine, com os seguintes descritores: autismo, transtorno do espectro autista, fisioterapia motora em autistas. Os critérios de inclusão foram a utilização de bibliografia e artigos incluídos em periódicos publicados nos últimos 17 anos.

Após a pesquisa nas bases de dados, foi realizada a análise das principais citações envolvendo repercussão motora e abordagem fisioterapêutica em indivíduos diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista.

 

Desenvolvimento:

Os indivíduos diagnosticados com TEA  apresentam comprometimento de funções físicas e mentais, o que requer um maior cuidado para tratamento destas desordens. É inerente destes pacientes a dificuldade em se relacionar com as pessoas, de fixar a atenção em atividades isoladas ou em conjunto, bem como de expressão linguística, o que torna necessário o tratamento da sintomatologia com equipe multiprofissional, sendo estes os responsáveis por trabalhar as habilidades motora, cognitiva, de linguagem e social 1,2,7,8.

O transtorno ainda não apresenta cura conhecida, portanto um diagnóstico precoce e intervenção imediata diminuem as consequências do atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, que acarretam prejuízo a qualidade de vida da criança e seus familiares 1,8.

Para uma adequada inclusão social da criança, é necessário que haja o engajamento da família junto à atuação da equipe multidisciplinar frente às condições clínicas apresentadas, para que se tenha um total esclarecimento não só sobre o curso do transtorno, mas também de como se lidar com o cotidiano daqueles diagnosticados com TEA 2,8.

Os parâmetros avaliativos que permitem a classificação do TEA incluem a visualização da estrutura corporal do indivíduo e a sua incitação a estímulos e respostas, e são eles: a Escala de Classificação de Autismo na Infância (CARS), e a Medida de Independência Funcional (MIF). A CARS é um instrumento avaliativo que diferencia o grau de autismo em leve, moderado e grave, indicado para crianças acima de 2 anos, composta pela análise de 15 itens que investigam critérios inerentes a cognição, visão, olfato, tato e paladar. Já a MIF é o instrumento utilizado para indivíduos de todas as idades, capaz de medir o grau de solicitação de cuidados, a partir da análise de habilidades motoras e cognitivas, avaliando de forma quantitativa os cuidados que uma pessoa requer para a realização de atividades de vida diária 7,8.

A atuação fisioterapêutica voltada para crianças com TEA contribui para o seu desenvolvimento motor, para ativação das áreas de concentração, para a interação social e para a comunicação. Para tanto, atividades lúdicas que envolvam habilidades para o desenvolvimento motor, devem estar presentes no programa de atendimento. Tais habilidades auxiliam na modulação do tônus muscular, no fortalecimento da musculatura de tronco e membros, na dissociação de cinturas pélvica e escapular, no equilíbrio, na propriocepção, na acurácia da coordenação motora fina e grossa, além de estímulos dos aspectos cognitivos necessários para a execução das atividades propostas.  É necessário o treino de habilidades motoras como o rolar, sentar, deambular com e sem obstáculos, subir e descer escadas, sempre respeitando as limitações físicas e emocionais do paciente  2,8.

Em uma proposta de programa de intervenção fisioterapêutica destinado à criança com TEA, o uso da estimulação sensorial deve ser parte integrante do atendimento, a fim de também instigar aspectos psicológicos adaptativos, a partir da integração entre pacienteterapeuta e paciente-meio. Estimulação do tipo visual pode ser feita a partir de cartões com figuras e letras do alfabeto, e com o uso de luminárias coloridas; a estimulação auditiva pode ser feita com brinquedos sonoros; e a estimulação tátil com objetos de diferentes tamanhos e texturas 7,8.

 

Conclusão:

Desta maneira, é necessário que o profissional da área da Fisioterapia compreenda que além de desordens motoras, que atrapalham o esquema corporal, as crianças com Transtorno do Espectro Autista apresentam comprometimento da interação social, comunicação e de comportamento, aspectos estes que tornam o tratamento de complexidade elevada.

No acompanhamento fisioterapêutico deve conter práticas de experimentação sensório-motora, a fim de promover a integração não só com as pessoas e o meio onde está inserido, mas também consigo mesmo, com o intuito de estimular o desenvolvimento neuropsicomotor e melhorar a relação familiar, promovendo desta forma uma melhor qualidade de vida.


Referências:

1. SEGURA, Dora de Castro et al. Estudo do conhecimento clínico dos profissionais de fisioterapia no tratamento da criança autista. Ciênc. Saúde Unipar, Umuarama. v.15, n.2, p. 159-165, Mar. 2011.

2. AZEVEDO, Anderson; GUSMÃO, Mayra. A importância da fisioterapia motora no acompanhamento de crianças autistas. Ver. Eletrôn. Atualiza Saúde, Salvador. v.2, n.2, p. 76-83, Jan/Jun. 2016.

3. SIQUEIRA, Carolina de Carvalho et al. O cérebro autista: A biologia da mente e sua implicação no comportamento social. Rev. Transformar, Rio de Janeiro. n.8, p.221237. 2016.

4. RUTTER, Michel. Incidência de distúrbios do espectro autista: Muda com o tempo e seu significado. Atlas de Pediatria, São Paulo, v.94, n.1, p.2-15, Jan. 2005.

5. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5. American Psychiatric Association. 5ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2014.

6. ASSUMPÇÃO, Francisco; PIMENTEL, Ana Cristina. Autismo infantil. Rev. Bras. Psiquiatria, Rio de Janeiro, v.22 (supl II), p. 37-39, 2000.

7. FERREIRA, Jackeline Costa et al. Efeitos da fisioterapia em crianças autistas: estudo de série de casos. Cadernos de Pós-graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.16, n. 2, p. 24-32, 2016.

8. RIBEIRO, Marcelo et al. Validação da versão brasileira da medida de independência funcional. Acta Fisiátrica, São Paulo, v.11, n.2, p.72-76. 2004.

 

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Obs:

- Todo crédito e responsabilidade do conteúdo é de sua autora.

- Publicado em JANEIRO/2018.


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