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Análise da Biomecânica em: Supermercados, Feira Livre e Pontos de Ônibus - Artigo de Revisão E-mail
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Analysis of Biomechanics on: Supermarkets, Free Market and Bus Stops

 

Trabalho realizado por:

- José Simão Rodrigues Filho1
- Filipe Araújo1
- Rosangela Coelho1

1 Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)

Contato: jseua@hotmail.com

 

 

Resumo

São de conhecimento da sociedade as inúmeras transformações que a tecnologia provoca, contudo poucos conhecem ou se interessam em saber acerca dos problemas que estas transformações impõem ao corpo humano. A falta de conhecimento da biomecânica traduz as patologias cada vez mais presentes neste mundo pós-moderno.

Este estudo tem como objetivo analisar a revisão de literatura e realizar uma análise da biomecânica das pessoas presentes em supermercados, feira livre e pontos de ônibus, a fim de que as informações possam estar disponibilizadas para a população, trazendo também algumas intervenções fisioterápicas para a prevenção de futuros processos patológicos.

 

Abstract

They are known to the society the many changes that the technology causes, yet few know or are interested in knowing about the problems that these changes impose on the human body. The lack of knowledge of biomechanics resulting pathologies increasingly present in this postmodern world.

This study aims to analyze the literature review and conduct an analysis of the biomechanics of the people present at supermarkets, free market and bus stops, so that information can be made available to the public, and bringing some physiotherapy interventions for prevention future disease processes.

 

Introdução

 

O homem vive em um ambiente de constante e intensa transformação. Motivado pelos avanços da ciência, ele tenta atribuir a sua vida os benefícios das novas tecnologias e assim diminuir as cargas e tensões que o mundo moderno o impõe. Embora esta realidade, de confortos e comodidades ao corpo humano, esteja visivelmente presente – em nossas casas, por exemplo – esta visão ainda é deturpada em alguns contextos da nossa sociedade, sobretudo no âmbito laboral, onde é marcante a falta de cuidado e respeito às condições fisiológicas do organismo.

Quando uma articulação ou outra estrutura anatômica são prejudicadas por uma lesão, a biomecânica normal é comprometida. Ocorrem mudanças adaptativas que alteram a maneira pela qual várias forças atuam coletivamente sobre aquela articulação para produzir o movimento. (LORETE, 2006).

Nessa perspectiva, emergiu o interesse de estudar a revisão da literatura referente aos aspectos relacionados à biomecânica e relacionar estes conhecimentos com uma observação prática, analisando a biomecânica das pessoas que freqüentam os seguintes locais: Supermercados, feiras livres e pontos de ônibus. Segundo Hamill (2008), esta análise avalia o movimento de um organismo vivo e o efeito de determinadas forças sobre esse organismo. Portanto, uma variedade de tarefas de manuseio, tais como levantamento, sustentação, carregamento, empurrar e puxar; e posturas preservadas por tempo demasiado ou em condições inapropriadas, como ficar em pé ou sentado, são condicionantes fundamentais para o estudo cinesiológico e biomecânico. A realização de movimentos repetitivos e a convivência diária com um ambiente padronizado, ferindo a individualidade corporal, também serão averiguados mantendo uma relação patogênica com as disfunções músculo-esqueléticas.

Por último, destacamos o papel da fisioterapia no tratamento das lesões tanto agudas quanto crônicas, e sobremaneira na intervenção profilática - desde uma reeducação postural até uma adaptação ergonômica do ambiente - a qual é considerada o carro-chefe da atuação do fisioterapeuta, haja vista todos os benefícios que a prevenção favorece a saúde dos trabalhadores e a saúde financeira das empresas.

 

Material e Métodos

 

Este estudo constitui-se de uma revisão da literatura, realizada entre os meses de agosto e setembro de 2009, para tanto, foram feitas consultas a livros presentes na biblioteca da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) – campus de Jequié. Parte dos dados deste estudo foi selecionada em alguns artigos científicos, disponibilizados em páginas eletrônicas da internet. Somado a revisão da literatura houve uma extensa análise da Biomecânica realizada pelos autores deste trabalho, visando compreender as relações entre os movimentos corporais e as lesões músculo-esqueléticas que poderão se instalar naquele organismo.

As palavras chaves usadas na pesquisa foram: Análise da biomecânica, ações musculares, lesão músculo-esquelética, ergonomia, DORTs e fisioterapia preventiva.

 

Resultados e Discussões

A seguir serão discutidos os resultados da pesquisa e observação prática sobre a análise biomecânica dos movimentos característicos nos indivídos (trabalhadores e/ou consumidores) em três supermercados, uma feira livre e quatro pontos de ônibus, todos localizados na cidade de Jequié-BA.

 

2.1 Análise da biomecânica em Supermercados

A postura é influenciada pelas características e exigências da tarefa, pelos fatores internos como as formas fisiológicas e biomecânicas de manutenção do equilíbrio e pelas características do meio ambiente (SANTOS, 2007).

Observou-se, portanto, diversas variedades de posturas e movimentos, os quais abriram um leque bastante amplo de possibilidades, a fim de analisarmos a biomecânica – em consumidores e trabalhadores que estavam presentes – e desta forma contemplar nossas expectativas de estudo.

Iniciamos a avaliação com os consumidores. Estes, expostos aos mais variados perigos que o desequilíbrio postural pode oferecer. Prateleiras demasiadas altas ou produtos postos em lugares baixos e de difícil acesso favorecem aos distúrbios da coluna vertebral, pois se deve levantar e abaixar a todo o momento para avaliar o produto ou consultar seu preço, já que não raramente o valor está escrito de forma minúscula, obrigando a aproximação do consumidor para a sua verificação. Somado a isso, o carregamento de sacolas ou cestas (fig. 01) dificulta a realização de movimentos simultâneos. Uma escoliose funcional é notória quando na utilização de cestas carregadas ou sacolas (geralmente presas ao antebraço do consumidor) concomitante a uma elevação do braço acima da cabeça. Nesse movimento do braço, pode-se destacar a ação sinergista dos músculos Serrátil anterior e Trapézio (fibras superiores e médias) para realizar uma rotação para cima da escápula, liberando o úmero para a ascensão do membro. Simultaneamente, do lado oposto, há uma contração isométrica dos mm. Deltóide, trapézio, bíceps braquial e os mm. do manguito rotador (redondo menor, infra-espinhal, supra-espinhal e subescapular) para estabilizar a articulação do ombro e cotovelo, sustentando o peso da cesta ou das sacolas. Decorrente disto, patologias podem se instalar, como uma escoliose, que pode passar de funcional para patológica; bursites e/ou tendinites nos ombros que realizam movimentos repetitivos, como pegar produtos em lugares altos de forma recidiva por todo o período da compra.

A utilização do carrinho no supermercado é uma maneira bastante pratica de escapar das sobrecargas ao corpo por conta do grande número de produtos comprados. Mas é valida a ressalva que carrinhos muito pesados podem sobrecarregar a coluna no momento do inicio do movimento de empurrar, sobretudo em pessoas idosas que possuem déficits musculares consideráveis para tarefas que demandem maiores cargas.


Figura 1: Compensação escoliótica, devido a utilização da cesta, para a elevação do braço do lado contra-lateral.

 

Em seguida, os trabalhadores dos supermercados foram os alvos das análises, as quais demonstraram muitos erros posturais. Este comportamento adotado pelos trabalhadores é motivado pela fuga do desconforto, contudo esta atitude tende a aumentar a solicitação e o gasto energético de grupos musculares desnecessários causando o desenvolvimento de sintomas com dor, formigamento, câimbras entre outros.

Muitos postos de trabalho inadequados provocam tensões musculares, dores, fadiga que, às vezes, podem ser resolvidas com providências simples (LIDA, 2000).

Através da biomecânica ocupacional podemos analisar posturas corporais no trabalho e as aplicações de força nas articulações mais solicitadas. Ao observamos a postura dos operadores de caixa supermercado pudemos descrever alguns problemas dentre eles sobrecarga biomecânica, movimentos desordenado de membro superior e inferior e repetição do movimento. A seguir são esquematizadas e posteriormente analisadas as diversas posturas do corpo e a porcentagem do peso total, segundo Lida (2000):

 

 

Quadro 01
Parte do corpo   % peso corporal
Cabeça

6 a 8

Tronco

40 a 46%

Membros superiores

11 a 14%

Membros inferiores

33 a 40%

 

 

Posição sentada: Exige atividade muscular do dorso e do ventre para manter esta posição. Praticamente todo peso do corpo é suportado pela pele que cobre o osso ísquio, nas nádegas. O consumo de energia é de 3 a 10% maior em relação a posição horizontal. A postura ligeiramente inclinada para frente é mais natural e menos fatigante que aquela ereta. O assento deve permitir mudanças freqüentes de postura, para retardar o aparecimento da fatiga.

Posição de pé: A posição parada, em pé, é altamente fatigante porque exige muito trabalho estático da musculatura envolvida para manter esta posição. O coração encontra maiores resistências para bombear sangue para os extremos do corpo. As pessoas que executam trabalhos dinâmicos em pé geralmente apresentam menos fadiga que aquela que permanecem estáticas ou com pouca movimentação.

 

 

Quadro 02: Localização das dores no corpo, provocadas por posturas inadequadas.

POSTURA

RISCO DE DORES

Em pé

Pés e pernas (varizes)

Sentado sem encosto

Mm. Extensores do dorso

Assento muito alto

Parte inferior das pernas, joelhos e pés

Assento muito baixo

Dorso e pescoço

Braços esticados

Ombros e braços

Pegas inadequadas em ferramentas

Antebraços

 

Durante uma jornada de trabalho, um trabalhador pode assumir dezenas de posturas diferentes. Em cada tipo de postura um conjunto de musculatura é acionada, contudo o individuo não se da conta dos danos que podem provocar.

Funcionários encarregados de organizar as gôndolas, na parte inferior flexionam o tronco mantendo os joelhos estendidos ou semi-fletidos (unilateral), ocasionando alongamentos dos músculos isquiotibiais (bíceps femoral, semi-membranoso e semi-tendinoso) e dos mm. lombares. Esta atividade é realizada de maneira repetitiva ocasionando desgastes nas articulações intervertebrais (desde a porção final da torácica até a porção lombosacral) e na pelve, já que os mm. posteriores da coxa se inserem no osso ísquio. Essas compensações favorecem ao surgimento de uma escoliose, já que o movimento de inclinar para frente se faz de forma inadequada (um lado em semiflexão do joelho e outro estendido), refletindo a busca pelo centro de gravidade e assim se instalando um quadros álgicos.

 

Figura 02: Carregamento de incorreto de cargas.

 

Quando braço é mantido na posição elevada acima dos ombros os mm. dos ombros e do bíceps se fatigam rapidamente, e podem aparecer dores provocadas por tendinites. Somado a isso, o carregamento de pesos gera uma sobrecarga nas articulações envolvidas. Ao observar a figura 02, pode-se identificar uma pequena rotação de tronco para o lado da carga, uma flexão lateral da cervical para o lado oposto a carga, encurtamento das fibras do trapézio de um lado e alongamento de suas fibras do outro, podendo ocasionar futuramente uma depressão do ombro que suporta a carga; a manutenção da flexão do cotovelo com a extensão do punho (alongamento dos flexores do punho e dedos) por um período considerável pode resultar em DORTs, como síndrome do túnel do carpo, epicondilite medial e tendinites. Outra situação que deve ser observada é durante a subida e descida de escadas, quando as articulações dos membros inferiores são submetidas as sobrecargas, gerando um desgaste do quadril, joelho e tornozelo.

Os operadores de caixa foram os próximos a serem avaliados. Muito tempo na posição sentada, movimentos repetitivos e rápidos para a transição dos produtos (rotações de tronco e cervical; flexão e abdução do braço) e as incoerências ergonômicas encontradas no supermercado corroboram para o surgimento de processos patológicos. Porém, mesmo com o ambiente de trabalho adequado, ainda se pode observar a presença de doenças ocupacionais, geradas essencialmente pela falta de consciência postural do trabalhador.

Um dos principais fatores que contribuem para o adoecimento dos operadores de caixa é o projeto de trabalho, uma vez que estes exigem posturas que podem levar ao acometimento de patologias músculo-esqueléticas, e a pobre conscientização postural para que eles possam reagir às agressões biomecânicas exigidas pelos postos de trabalho. (Shinnar et e al ,2004).

 

Figura 03: Operadora de caixa

 

Sob o ponto de vista biomecânico, a postura sentada impõe carga significativa sobre os discos intervertebrais (pressão intradiscal), cerca de 50%, principalmente da região lombar, e se mantida estaticamente por períodos prolongados pode produzir fadiga muscular e consequentemente dor. Devemos lembrar que os discos intervertebrais são estruturas praticamente desprovidas de nutrição sanguínea e que o aumento de sua pressão interna reduz a nutrição do mesmo promovendo uma degeneração, seu comprometimento estrutural é menor quando comparada a postura em pé. As vantagens da postura sentada são o alivio dos membros inferiores, baixo consumo energético, menor sobrecarga ao corpo e alivio a circulação sanguínea. Porém, Santos (2007) reafirma que alguns experimentos demonstram que a mecânica da coluna vertebral, na postura sentada, é perturbada produzindo desgastes e conseqüentes lesões nos discos intervertebrais pela pressão a que essas estruturas sofrem por tempo prolongado.

Com relação aos empacotadores, podem-se destacar os malefícios que uma postura em pé por tempo exacerbado provoca. Já que o trabalho em pé exige dos membros inferiores uma atividade muscular estática para manter uma posição altamente fatigante, existindo em conjunto alterações da hemodinâmica nos membros inferiores (principalmente do tríceps sural), caracterizada por um aumento da pressão hidrostática – fato que justifica a formação de edemas, visivelmente observáveis no fim do dia, sobretudo no tornozelo. Existe também uma fadiga nos músculos das costas.

 

 

Figura 04: Empacotador. Nesta figura está caracterizando toda a postura de descompensamento das estruturas anatômicas, as quais são responsáveis pelo equilíbrio estático da coluna, resultando em sobrecargas em diversos grupos musculares. Somado a isso, é da função do empacotador transferir sacolas, do balcão ao chão e eventualmente do chão aos carros dos clientes, ou seja, mais riscos se estas tarefas forem executadas sem um mínimo de consciência corporal.

 

Esta fadiga pode ser piorada com a inclinação do tronco e da cabeça causando dores e promovendo cervicalgias e lombalgias.

A posição em pé com os membros inferiores apoiados simetricamente causa uma lordose fisiológica, contudo em um apoio assimétrico o corpo apresenta-se em um verdadeiro complexo de compensações, tendo em vista a curvatura da lombar e da cervical para o lado apoiado. É sabido que a mudança de postura durante a atividade de trabalho é de grande importância para a integridade do sistema músculo-esquelético, possibilitando a alternância de cargas e a variação do uso de estruturas articulares e musculares, entretanto essas mudanças se fazem de maneira deliberada e só irão favorecer ao surgimento, a médio-longo prazo, das mais variadas patologias.

 

2.2 Análise da biomecânica na feira livre

A feira livre revelou-se um ambiente bastante rico sob o ponto de vista da análise biomecânica, pois é o local onde os trabalhadores liberais exercem suas tarefas sem o julgo ergonômico e completamente desprovidos de uma mínima consciência biomecânica. O observado na figura cinco revela o descompromiso com os limites corporais, quando o individuo abaixa-se para pegar a mercadoria repleto de compensações, tais como: sustentação do peso corporal em apenas um membro inferior (extensão do membro contra-lateral), flexão exagerada do tronco com desvio para o lado onde ocorrerá a apreensão do objeto. Isto provocará, com a repetição diária, desgaste crônico da coluna vertebral (sobretudo da lombar), sobrecarga no joelho e quadril do lado da sustentação, desequilíbrios musculares, já que um grupo muscular será requisitado de forma irregular.

O transporte incorreto de cargas na feira livre configura outro ponto importante para o estudo cinesiopatológico, claramente verificado na figura oito, pois o

 

Figura 05: Movimento incorreto de agachar.

 

trabalhador sustenta o peso utilizando um lado do corpo, e a falta de simetria coloca a postura em uma situação critica. Os músculos do lado do peso se encontram em contração isométrica, com o trapézio alongado, já do lado oposto os músculos irão estar encurtados (devido à manutenção na posição de flexão do ombro, cotovelo e adução do braço). Um desvio da coluna provoca a formação de uma concavidade para o lado oposto a carga, favorecendo ao surgimento de escoliose. Desgastes na articulação do ombro o colocará susceptível a instalação de quadros inflamatórios, como tendinites e bursites, não raramente podendo evoluir para complicações crônicas. Os desequilíbrios irão afetar o corpo como um todo, mais especificamente na cintura escapular, onde o comprometimento anatômico, tantos dos ossos quanto dos tecidos moles, irá prejudicar a biomecânica respiratória, já que um ombro deprimido de um lado, músculos encurtados do outro e uma coluna desalinhada influirão na fisiologia dos órgãos internos.

 

Figura 06: Levantamento, sustentação e transporte de cargas.

 

A altura da carga no inicio do levantamento é outra variável normalmente estudada quanto a sobrecarga. Boussenna et al. (1982) calcularam os torques para o quadril joelho e tornozelo, os quais mostraram significantes diferenças entre os sujeitos e e diferenças altamente significantes entre quatro posturas. Verificaram maior torque na posição ereta, tronco e quadril fletidos e com os joelhos estendidos.

Muitos autores propõem regras para o levantamento de cargas, como Sullivan (1989), que sugere para um levantamento seguro, observar o plano de levantamento, a manutenção da carga próximo ao corpo, evitar a rotação do tronco enquanto se levanta, flexionar os joelhos.

As regras muitas vezes são de difícil aplicação, pois dependem do tamanho do indivíduo, forma e posição no espaço e dos hábitos daquele que levanta o peso, seis princípios devem ser observados: 1) pés planos no solo 2) pernas afastadas numa distância cômoda (aproximadamente 30cm), 3) peso‚ mantido o mais próximo possível do indivíduo; 4), a coluna vertebral‚ mantida na posição o mais ereta possível; 5) o levantamento ‚ realizado pelos músculos maiores e mais fortes, em geral os músculos extensores da articulação do joelho; 6) indivíduo voltado para a direção daquilo que pretende desloca.

 

Durante o ato de puxar, o corpo penderá mecanicamente para frente, com a coluna vertebral em flexão, um dos membros inferiores anteriorizados em relação ao outro, que por sua vez deve estar situado posteriormente ao tronco, ambos em semiflexão nas articulações coxofemorais e joelhos (Dull e Weedmeester, 1995).

A postura na figura nove, revela potencias comprometimentos na coluna tóraco-cervical, com a presença de hipercifose e uma anteriorização da cabeça acompanhada de cervicalgias.

 

2.3 Análise da biomecânica em pontos de ônibus

A inadequação dos ambientes públicos sem o perfil ergonômico, nos leva a uma análise postural dos indivíduos que freqüentam os pontos de ônibus. Inúmeros fatores desencadeiam a gênese de processos patológicos, por exemplo: distancias inadequadas entre o assento e o piso, o assento e o encosto, materiais desconfortantes e tetos com designers desfavoráveis.

A figura sete demonstra a incoerência entre a distancia do assento ao piso, verificando a incapacidade do indivíduo em colocar os pés no chão.

 

Figura 7: Posição sentada

 

Esta posição em tempo prolongado pode provocar alterações da dinâmica vascular, com formações de edemas, parestesias e paresias.

Observa-se também a maneira desleixada de sentar da população. Devido a isso a coluna vertebral apresenta-se como a região mais afetada, pois o apoio do encosto se da apenas em uma porção da região torácica, sobrecarregando a coluna lombar.

Verificou-se que em períodos de grande movimento, há uma ocupação total dos assentos forçando alguns indivíduos permanecerem na posição em pé (já descritas, neste trabalho, todas as problemáticas que esta postura, mantida por um tempo elevado, pode ocasionar). Além disso, mantêm-se em uma postura de descarga assimétrica de peso (fig. 8) utilizando também compensações com os membros superiores.

 

Figura 8: Compensações para suportar o tempo de espera.

 

Como não se fosse o bastante, os usuários de transportes públicos também enfrentam dificuldades ao subir nos ônibus, já que para muitos (crianças e idosos) o andar do ônibus é elevado, e uma flexão grande do quadril deve ser feita, a fim de se equilibrar e conseguir alcançar o piso.


 

2.4 Intervenção fisioterápica

É de conhecimento de todos, o grande avanço que as ações preventivas, conduzidas pela fisioterapia, ganham ao decorrer dos anos. A demanda por programas de prevenção está focada nos fatores de risco que podem desencadear as DORTs. Com base nesta realidade, a prevenção fisioterápica é composta por programas educacionais, implantação dos princípios da ergonomia no ambiente de trabalho, desenvolvimento de técnicas de alongamento e relaxamento através da cinesioterapia laboral. Contudo, a simples realização de alongamentos sem a interferência dos conceitos ergonômicos no ambiente de trabalho não resultará em respostas positivas, pois não basta trabalhar para que o corpo esteja menos susceptível a lesões, negligenciando o ambiente que o trabalhador está inserido.

Segundo Santos (2007), a reincidência dos sintomas se deve ao não retorno gradativo da função desempenhado pelo funcionário. Não basta o afastamento durante o tratamento medicamentoso e fisioterapêutico, mas que este retorno a suas atividades laborais sejam orientadas por um fisioterapeuta capacitado para que reabilite funcionalmente o membro afetado do paciente. Este acompanhamento deve ser incluso no programa a fim de se evitar o regresso do quadro patológico.

Desta forma, podemos selecionar algumas ações que poderão ser utilizadas, por um profissional da fisioterapia, com o intuito de diminuir a instalação de quadros álgidos, cada vez mais freqüentes em consumidores, trabalhadores (tanto liberais quanto vinculados a empresas) e usuários de transportes públicos:

- Colocação de cartazes, didáticos e bem ilustrados em supermercados ou em outros locais onde há uma presença constante de pessoas, os quais tragam as maneiras corretas de agachar, levantar pesos e carregar mercadorias, trazendo conceitos básicos de biomecânica e instruindo-os a respeitar seus limites corporais.

- Seções de alongamentos com os trabalhadores de supermercados, os quais ficam por tempo prolongado em posturas de risco para o aparecimento de patologias músculo-esqueléticas como: em pé, sentado e carregando pesos. Estes alongamentos são realizados antes do expediente, e se possível depois.

- Palestras gratuitas aos trabalhadores de feira livre, orientando aos riscos que eles enfrentam diariamente. Sabe-se que é difícil a intervenção nesta esfera da sociedade, onde o nível de escolaridade encontra-se reduzido severamente, mas pequenas palestras de reeducação postural podem tornar-se úteis, minorando, sobretudo as lesões à coluna vertebral.

- Colocação de cartazes, ilustrados e de fácil entendimento, em pontos de ônibus, instruindo os usuários de transporte público sobre o modo correto de sentar-se.

- Palestras em escolas públicas, principalmente no ensino fundamental, pois foi verificado que a extensa maioria dos trabalhadores dos supermercados e da feira livre foram alunos do sistema público de ensino. Portanto, se um trabalho de educação postural com a inserção de conhecimentos básico de biomecânica e as lesões que podem ocorrer no corpo humano, poderá, a longo prazo, diminuir significativamente os casos de distúrbios músculo-esqueléticos e os afastamentos dos postos de trabalho por motivo de enfermidade.

 

Conclusão

Esta pesquisa permitiu conhecer mais profundamente os efeitos da biomecânica do trabalhador no setor de supermercados e feira-livre, observando as posturas que o operador assume para realização de uma determinada tarefa e os efeitos da biomecânica e as conseqüências que o seu mau uso pode provocar.

Percebemos também a postura dos usuários de ponto de ônibus e supermercado pode afetar sua biomecânica e favorecer o surgimento de diversas patologias.

Outros fatores relevantes para o aumento de lesões são: inadequação dos equipamentos, mobiliários, desrespeito aos posicionamentos angulações e distâncias dos mesmos, técnicas incorretas para execução de tarefa, sobrecarga biomecânica estática, dinâmica ou de repetição, e o posicionamento e organização do próprio trabalho que não favorecem a dinâmica da mecânica corporal acarretando diversos problemas, principalmente relacionados à coluna vertebral.

Destarte, este estudo poderá servir de embasamento para investigação da biomecânica de postos de trabalho, para que novas pesquisas possam vir à frente; não somente no que diz respeito ao aspecto ergonômico e biomecânico como também na abordagem da ampla gama de vantagens preventivas que podem ser promovidas, unindo-se à busca constante pelo conhecimento e melhoria da qualidade de vida tanto do trabalhador quanto do consumidor.

 

Referências

SMITH, L. K.; WEISS, E. L.; LEHMKUHL, L. D. Cinesiologia Clinica de Brunnstrom. São Paulo: Manole, 1997.

KENDALL, P. F.; McCREARY E. K.; PROVANCE P. G. Músculos provas e funções. São Paulo: Manole, 1995.

KAPANDJI, A. I. Fisiologia Articular – Tronco e coluna vertebral. 5ª ed. São Paulo: Panamericana, 2000.

LIDA, Itirio. Ergonomia projeto e produção. 3ª ed., São Paulo – SP: Edgar Blücher, 1995

KISNER, C.; COLBY, L.A. Exercícios terapêuticos: Fundamentos e técnicas. 3 ed. São Paulo: Editora Manole, 1998.

HAMIL, J. Bases biomecânicas do movimento humano. 3a edição. São Paulo: Manole, 2008.

 

SITES:

 

 

Obs:

- Todo crédito e responsabilidade do conteúdo são de seus autores.
- Publicado em 26/04/10.

 

 

 

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